terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Exame de Toque: o que é e serve para quê?


Costuma ser um assunto que gera muitas discussões. Muitas mulheres são extremamente contra e outras totalmente favoráveis. Imagino que o melhor é o meio termo. Quando se trata de gravidez é sempre bom contar com várias formas de garantir que o bebê e a gestação transcorra sem problemas e o Exame de Toque, se usado com sabedoria, é uma dessas formas.

O que é Exame de Toque?


É o exame feito na gestante para avaliar a dilatação e espessura do colo do útero, descida e posição da cabeça do feto e rompimento da bolsa, assim sendo, normalmente é feito durante o trabalho de parto. Contudo alguns médicos utilizam como rotina durante o pré-natal.

Como é feito o exame?


O exame é realizado com a grávida deitada na posição ginecológica, com as pernas afastadas e elevadas. O médico, utilizando uma luva, irá introduzir dois dedos para alcançar o colo do útero.




Para que serve?


O exame de toque na gravidez serve para o médico ginecologista avaliar a evolução da gravidez ou do trabalho de parto, avaliando o tempo que ainda deve durar o trabalho de parto, no caso do parto normal, baseado na dilatação do colo uterino.

O toque então serve para avaliar aspectos como:


  • Posição do colo uterino: posterior, anterior ou intermédio;
  • Extinção (ou apagamento) do colo uterino: formado, isto é sem apagamento, 50% apagado, 80% apagado e apagado;
  • Dilatação do colo uterino: até dez centímetros;
  • Consistência do colo uterino: duro ou mole;
  • Descida e rotação da cabeça do bebê.
  • À medida que a gravidez se aproxima do fim, o colo vai progressivamente, orientando-se de posterior para anterior, encurtando, dilatando e perdendo consistência.


O que o toque não pode determinar:

  • A compatibilidade feto-pélvica (proporção entre o tamanho do bebê e a pélvis da mãe);
  • Quanto tempo falta para o bebê nascer.

Quais os riscos de fazer o toque?


Aumento do risco de infecção: mesmo quando realizado com cuidado e com luvas, há sempre o risco de levar micro-organismos da vagina ao canal cervical.
Interfere com a progressão normal do trabalho de parto. 
Afeta a mulher emocionalmente: o toque invade a privacidade, pode ser desconfortável e obriga a mulher a uma posição pouco facilitadora do parto. Além disso, se se diz a uma mulher que tem quatro centímetros de dilatação e, passada uma hora e muitas contrações, depois de novo toque, se diz que ainda mantém os quatro centímetros, o sentimento vai ser de desânimo, quando o que se pretende é o contrário.

O exame dói?


O exame de toque normalmente é rápido e não deve causar dor na mulher, o que pode trazer é um certo incômodo. Por ser uma exame invasivo, a mulher costuma ficar mais tensa, o que dificulta a penetração e dependendo da sensibilidade da mulher, pode gerar dor. Caso a mulher sinta dor no exame é importante verificar, pois pode ser que haja um motivo que precise ser tratado que é o que acabou gerando essa dor.

O exame causa algum sangramento?


O exame de toque na gravidez pode provocar um pequeno sangramento, que é normal e não deve deixar a grávida preocupada. Isso pode ocorrer devido a região ser bastante vascularizada, juntamente com a tensão da paciente, pode vir a romper um pequeno vaso, causando um leve sangramento que deve ser muito breve, caso contrário é necessário buscar ajuda médica.

É um exame de rotina durante o pré-natal?


Muitos ginecologistas adotam o exame de toque como rotina no pré-natal ou a partir de 36 semanas de gestação. Já no caso de profissionais mais atualizados ou que sigam uma linha humanizada, esse exame só feito caso haja necessidade de avaliar algum risco na gravidez, como em caso da grávida se queixar de contrações, mesmo que a data prevista para o parto ainda esteja longe, é normal haver uma observação vaginal para verificar se existe ou não trabalho de parto. Caso a gravidez esteja correndo tranquilamente, com baixo risco de trabalho de parto, não há necessidade de realizar o exame. 



Muitos médicos utilizam o momento do exame de toque para realizar a amniotomia (ou rotura de membranas), que consiste em romper o saco amniótico durante o trabalho de parto para tentar que a dilatação avance. Esse procedimento necessita da permissão da gestante e só deve ser efetuado quando há indicação para acelerar o trabalho de parto ou suspeita de sofrimento fetal com necessidade de monitorização. O procedimento é bastante desconfortável, pode causar uma pequena perda de sangue, e torna as contrações mais intensas e frequentes, logo aumenta a dor. Realizar o procedimento sem consentimento é uma forma de abuso obstétrico mais camuflada. As mulheres não percebem. Acham que é um mero processo avaliativo e não questionam.


Direito a negar a realização do exame


Questionar ou mesmo negar a realização do exame de toque é um direito da gestante. É importante perguntar ao médico o motivo da realização do exame e se essa é a única forma de avaliar a situação da gravidez naquele momento. 

A Constituição Federal assegura firmemente a liberdade individual ao dizer que "ninguém será obrigado a fazer ou a deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei" (artigo 5º inciso II Constituição Federal de 1988). O Código Civil prevê, ainda, que ninguém pode ser constrangido a submeter-se a tratamento médico ou intervenção cirúrgica (artigo 15). O Código de Ética Médica veda ao médico, a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em eminente perigo de morte, em violação ao direito de livre decisão do paciente sobre a execução (CEM, artigos 22 e 31 e princípios fundamentais, XXI).

Assim sendo, é direito da mulher aceitar o procedimento ou não, negar isso é crime! Há muitos casos em que a mulher não é informada do que será feito e é possível exigir uma cópia escrita de todos os procedimentos realizados, bem como quem realizou e sua identificação no conselho de obstetrícia ou enfermagem. 

Recomendação da OMS


A Organização Mundial de Saúde (OMS) determina que «o número de exames vaginais deve ser limitado ao estritamente necessário; durante a primeira parte do trabalho de parto [dilatação], habitualmente, um exame vaginal de quatro em quatro horas é suficiente». No documento Care in Normal Birth – a pratical guide explica-se ainda que «se o parto decorrer serenamente, profissionais de saúde experientes podem limitar o número de exames vaginais a um. Idealmente, a observação necessária para determinar que existe parto ativo, ou seja, dilatação». Apesar disso, o número de toques vaginais a efetuar durante o parto dificilmente gera consenso.

Hoje, diretrizes e protocolos de vários lugares do mundo recomendam: os toques devem ser realizados somente quando necessários e é desejável realizá-los com a menor frequência possível. Nada de toque de hora em hora ou a cada duas horas, de rotina. Se você desejar, você pode colocar no seu plano de parto que não quer receber toques de rotina e que eles só devem ser realizados com o seu consentimento informado.

Problemas do excesso do toque durante o trabalho de parto


Para que o trabalho de parto evolua a mulher deve estar num ambiente tranquilo e sem estresse. Com isso a ocitocina, que é um hormônio natural e também conhecida como o hormônio do amor (o mesmo liberado durante o sexo e durante a amamentação), fará com que o útero contraia de forma rítmica, fazendo com que a dilatação evolua. Se ela ficar muito nervosa e estressada, a adrenalina liberada irá travar a evolução da dilatação, onde são feitas intervenções desnecessárias que poderiam ter sido evitadas, como o uso de ocitocina sintética e anestesia. Quando a ocitocina sintética entra na corrente sanguínea da mulher, toda a ocitocina que ela liberaria naturalmente, antes, durante e depois do parto é bloqueada, interferindo no vínculo da mãe com o bebê. 



Exame de toque é ruim?


Como dissemos no início, é importante ter todas as ferramentas que possam garantir o bom andamento da gravidez. O problema está na banalização de um ou outro procedimento. Se a mulher está bem, o bebê está bem e não há motivos para realizar o exame, por que fazê-lo? 

A mulher desde o princípio conseguiu parir sem auxílio de drogas ou intervenções. É claro que se há necessidade de um ou outro procedimento nada melhor que utilizá-lo. Claro que a mulher tem o direito de utilizar um ou outro procedimento desde que saiba os riscos e benefícios que sua escolha implica, não pensando apenas em si mas no que sua escolha interfere na saúde do bebê. Até a próxima!










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