sexta-feira, 4 de março de 2016

Fertilização in vitro - FIV


Nem sempre o caminho até a maternidade é fácil, para grande parte das tentantes, é um caminho muito muito difícil. Por vezes o tempo é o maior obstáculo a ter que superar. Quando os primeiros tratamentos para engravidar (indução de ovulação, coito programado ou outros) não funcionam ou quando o tempo é um fator que não pode ser ignorado, a solução está em fazer uma fertilização in vitro (FIV). Entenda um pouco mais sobre essa opção para a conquista do positivo.

No que consiste a FIV?


A FIV é uma técnica de fertilização que consiste na manipulação dos gametas em laboratório e após fecundação, introdução do embrião no organismo materno. Isso significa que os óvulos previamente induzidos à ovulação são captados e em laboratório são fecundados com os peixinhos (espermatozoides) do pré-pai, daí o termo "in vitro" (no caso no vidrinho do laboratório). Depois é feita uma seleção dos embriões que são mais viáveis (os que tem maiores chances de implantar) e são colocados na cavidade uterina para a nidação (implantação no útero).

Quais são as etapas da FIV?


Indução da ovulação - Num ciclo menstrual normal há apenas um óvulo que cresce o suficiente para ser liberado para a fecundação. No caso da FIV, por razões obvias, é necessário que haja um número maior de óvulos para serem fecundados a fim de que as chances de sucesso sejam maiores. Nesse caso então é feito a estimulação dos ovários (indução) onde é administrado o hormônio FSH para crescimento dos folículos do ovário, para que mais óvulos sejam desenvolvidos e aptos à fecundação. Normalmente esse estímulo é feito através de injeções, por cerca de 9 a 12 dias, que aumentam a quantidade dos folículos e também melhora sua qualidade. 



Monitoramento do crescimento dos folículos - Com a utilização de ultrassonografias transvaginais é possível acompanhar o crescimento dos folículos e assim prevenir os efeitos colaterais da medicação (Hiperestimulação Ovariana por exemplo) e saber qual o melhor momento para a coleta dos óvulos. Com cerca de 18 a 20 mm os óvulos são considerados maduros para a coleta e então é feita a administração de hCG (Gonadotrofina Coriônica Humana) que irá desempenhar o papel do LH (hormônio responsável por indicar a maturação do óvulo) indicando assim ao organismo que libere os óvulos. 


Coleta dos óvulos - A maturação dos óvulos marca a hora da coleta dos mesmos para a fertilização. A paciente então é colocada sob sedação endovenosa ou anestesia local, com auxílio de uma ultrassom de alta frequência, uma sonda ecográfica acoplada à uma agulha especial para punção é introduzida na vagina e são recolhidos os folículos ovarianos, que ocorre geralmente entre 32 a 36 horas após a injeção do hCG. Múltiplos óvulos podem ser coletados em cerca de 30 minutos. Posteriormente, os óvulos são colocados em um líquido nutritivo (meio de cultura) e mantidos em estufa até o momento adequado para realizar a fertilização in vitro

Classificação dos óvulosCom o auxílio de um estereomicroscópio sob fluxo laminar (espécie de capela onde flui ar estéril de dentro para fora, evitando a contaminação do material), o conteúdo líquido destes folículos obtidos no centro cirúrgico, é transferido para uma placa de meio de cultura (meio que imita ao máximo o ambiente das tubas) e examinado à procura do óvulo. Uma vez identificado, o óvulo é transferido para outra placa contendo apenas meio de cultura, onde será classificado. Os óvulos são classificados como imaturos ou em prófase, metáfase I e metáfase II ou maduros. Apenas os óvulos na fase metáfase II apresentam estado de maturação suficiente para ser fertilizado.







Coleta dos espermatozoides - Esse é o momento da participação do futuro papai (ou do doador de esperma se for o caso). Enquanto os óvulos estão sendo classificados é feita a coleta dos peixinhos de forma manual (desculpe o trocadilho rs) através de masturbação. Após a coleta da amostra de sêmen os espermatozoides serão preparados através da lavagem com meio de cultura de células e centrifugação, onde ocorre a separação do plasma seminal, cujo resultado é um preparo de espermatozoides com maior motilidade e capacidade para fertilização. É durante esta etapa que é removida substâncias químicas e bactérias que podem causar reações adversas ou contrações uterinas, sendo então uma etapa muito importante para o sucesso da fertilização. 

Fertilização - Durante esta etapa os espermatozoides e os óvulos são mantidos juntos em um ambiente que imita as condições da trompa uterina. 

Numa incubadora à 37ºC com 5% de CO2 são mantidos por cerca de 12 a 18 horas até que possam ser observar sinais de fertilização, que nada mais é do que a presença dos 2 pró-núcleos, conforme imagem abaixo:

Fertilização normal

   2 Pro-núcleos 
Fertilização Anormal

1 Pro-núcleo
Fertilização Anormal

3 Pro-núcleo 

Classificação pré-transferência - Antes da transferência embrionária, os pré-embriões em fase de clivagem (3 dias após a fertilização) ou em estágio de blastocisto (6 dias após a fertilização) são classificados morfologicamente, levando em consideração a velocidade de divisão celular, o número de blastômeros, a simetria e a forma dos blastômeros, a presença ou ausência de fragmentação.

Antes de se transferir os embriões para o útero, é recomendado fazer o Diagnóstico pré-implantação (PGD) para casais que apresentam um risco de transmitir doenças genéticas para seus futuros filhos.

Transferência - Com certeza essa é a etapa mais esperada pela futura mamãe, pois é ela que representa a realização do sonho de forma concreta. A pré-mãe fica em posição ginecológica, em área física próxima ao laboratório onde se encontram os embriões. Os embriões são transferidos para o útero através de cateter especial com monitoramento ultrassonográfica trans abdominal para correto posicionamento do cateter. Após a transferência a paciente fica em repouso por cerca de uma hora onde foi feito a transferência e depois assumir um repouso relativo por 2 dias, evitando realizar exercícios físicos, carregar pesos, subir ou descer escadas ou manter relações sexuais. O uso dos medicamentos receitados para suporte da gravidez deve continuar até segunda orientação. A verificação da gravidez pode ser feita dentre 9 a 15 dias após a transferência dos pré-embriões, dosando-se a concentração de hCG no sangue ou mesmo com teste de urina.


Atualização da FIV


Na Fertilização in vitro tradicional para a formação do embrião, os espermatozoides são colocados juntos com o(s) óvulo(s) e então esperassem que ocorra a fecundação naturalmente. Contudo, novas formas de aprimorar a técnica foram criadas, uma delas é a ICSI – sigla em inglês para Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoides, é a introdução de um espermatozoide no óvulo usando-se um microscópio especial com sistema específico, o micromanipulador, no qual pode-se segurar o óvulo com uma agulha bem fina e com outra introduzir o espermatozoide. A vantagem desta técnica é que se
obtém uma taxa de fertilização bastante superior à Fertilização in vitro Convencional, sendo necessário somente um espermatozoide para cada óvulo.

Outro avanço ocorreu também com a ICSI, onde é feito uma avaliação morfológica do espermatozoide muito superior à ICSI Convencional, que recebeu o nome de ICSI Magnificada ou SUPER ICSI, no qual, com um aumento superior a 6.300 vezes, possibilita a escolha de melhores espermatozoides, resultando em maiores taxas de gravidez.

Quais complicações podem ocorrer com a FIV?



A Síndrome da Hiperestimulação Ovariana (SHO) é uma complicação decorrente do estímulo ovariano com indutores de ovulação, podendo levar a quadros graves e, em casos extremos, até à morte. Geralmente é decorrente de uma resposta exacerbada dos ovários ao estímulo hormonal e resulta em um número grande de oócitos. 



Os sintomas são:

  • Dor abdominal leve 
  • Inchaço 
  • Náuseas 
  • Vômitos 
  • Diarreia

Apesar de muitos médicos mencionarem a ocorrência de gestação múltipla como uma complicação potencial da FIV, confesso que não seria problema para alguém tão louca para ser mãe como eu. 




O risco de gestações múltiplas ocorre em casos em que mais de um embrião é transferido para o útero. Gestações múltiplas apresentam um risco maior de parto prematuro e baixo peso ao nascer quando comparadas com gestações únicas.

A FIV pode falhar?


Infelizmente muitos são os fatores que podem causar o insucesso da fertilização in vitro, dentre eles:

Alterações do embrião - A principal razão de um embrião não implantar é o fato de que grande parte dos embriões estão alterados (genética ou morfologicamente).

Alterações do sêmen - Fatores como fragmentação do DNA do espermatozoide, alterações importantes da motilidade, morfologia, alterações cromossômicas são algumas das causas de falha na FIV.

Alterações do óvulo - A qualidade dos óvulos é um dos principais fatores de sucesso da FIV. Os protocolos de indução de ovulação e as drogas utilizadas podem ter influência direta no número e na qualidade dos óvulos e embriões.

Alterações anatômicas do útero  - Alterações anatômicas do útero também podem prejudicar o embrião a se implantar, e o tratamento destas lesões pode melhorar a chance de sucesso. O diagnóstico pode ser sugerido por ultrassom transvaginal e histerossalpingografia, mas a confirmação diagnóstica se faz por vídeo-histeroscopia. Muitos serviços realizam de rotina a histeroscopia antes da FIV. Se não foi realizada, vale a pena ser indicada após uma falha. As alterações que podem estar associadas a falha de FIV são: septo uterino, pólipos, sinéquias uterinas e miomas submucosos. A exérese destas lesões pode aumentar a chance de implantação.


Alterações funcionais do endométrio - Muitas vezes, mesmo sem uma lesão anatômica na cavidade endometrial, pode haver alguma alteração da receptividade endometrial, estando envolvidos múltiplos fatores: hormonais, imunológicos e vasculares. 

Problemas na transferência - A dificuldade na transferência dos embriões muitas vezes causa traumas no endométrio e atrapalha a implantação do embrião, principalmente quando este ato for acompanhado de dor. Caso haja dificuldade na passagem do cateter de transferência, a vídeo-histeroscopia com a dilatação do colo ou simplesmente a dilatação do colo uterino isolada beneficia a próxima tentativa. Uma opção ainda é realizar a transferência com sedação. 


Alterações Imunológicas - Os problemas imunológicos têm sido responsabilizados por alguns casos de insucesso na fertilização in vitro e por abortos de repetição, dentre eles estão: Cross-match (abortos muito precoces durante a fase de implantação) ou mesmo Autoimunidade. 


Trombofilia - São doenças que provocam alterações de coagulação do sangue e, quando existem, aumentam a chance de formar coágulos sanguíneos e causar tromboses mínimas nos vasos placentários, capazes de provocar abortos. Alguns autores associam ainda com falhas de implantação, apesar de isso ser um assunto controverso.



Endometriose - quando a FIV é indicada, é questionável se deve-se submeter a paciente a uma cirurgia, havendo uma tendência a indicá-la somente em casos sintomáticos (para melhora da qualidade de vida) e/ou de endometriomas volumosos que possam atrapalhar a captação oocitária. Frente a falhas da FIV, uma opção é tratar a endometriose antes de uma nova tentativa, uma vez que a doença interfere na receptividade endometrial pela ação de citocinas como LIF (Leukemia Innibitory Factor), que atrapalham a implantação do embrião.



A verdade é que mesmo havendo chances de falhas, o mais importante é não desistir jamais de um sonho tão lindo quanto a gravidez. A FIV apresenta uma probabilidade de gravidez que variam entre 20 e 35% em mulheres de até 35 anos. A partir dos 40 anos, quando os óvulos já perderam parte da vitalidade, a taxa de gravidez cai para 15%. Contudo, não se deve ater-se ao cálculo matemático se ser mãe é seu maior sonho, procure um bom médico e lute sempre pelo seu positivo. Até a próxima.



Fontes pesquisadas: site do Centro de Reprodução Humana do IPGO, ghente.org e outras fontes da internet.




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