sábado, 9 de janeiro de 2016

Conviver com a perda

Minha joia devolvida

Joias Devolvidas



Narra antiga lenda árabe, que um rabi, religioso dedicado, vivia muito feliz com sua família. Esposa admirável e dois filhos queridos. 

Certa vez, por imperativos da religião, o rabi empreendeu longa viagem ausentando-se do lar por vários dias.

No período em que estava ausente, um grave acidente provocou a morte dos dois filhos amados.

A mãezinha sentiu o coração dilacerado de dor. No entanto, por ser uma mulher forte, sustentada pela fé e pela confiança em Deus, suportou o choque com bravura.

Todavia, uma preocupação lhe vinha à mente: como dar ao esposo a triste notícia?

Sabendo-o portador de insuficiência cardíaca, temia que não suportasse tamanha comoção.

Lembrou-se de fazer uma prece. Rogou a Deus auxílio para resolver a difícil questão.

Alguns dias depois, num final de tarde, o rabi retornou ao lar.

Abraçou longamente a esposa e perguntou pelos filhos...

Ela pediu para que não se preocupasse. Que tomasse o seu banho, e logo depois ela lhe falaria dos moços.

Alguns minutos depois estavam ambos sentados à mesa. A esposa lhe perguntou sobre a viagem, e logo ele perguntou novamente pelos filhos.

Ela, numa atitude um tanto embaraçada, respondeu ao marido: Deixe os filhos. Primeiro quero que me ajude a resolver um problema que considero grave.

O marido, já um pouco preocupado perguntou: O que aconteceu? Notei você abatida! Fale! Resolveremos juntos, com a ajuda de Deus.

Enquanto você esteve ausente, um amigo nosso visitou-me e deixou duas joias de valor incalculável, para que as guardasse. São joias muito preciosas! Jamais vi algo tão belo!

O problema é esse! Ele vem buscá-las e eu não estou disposta a devolvê-las, pois já me afeiçoei a elas. O que você me diz?

Ora, mulher! Não estou entendendo o seu comportamento! Você nunca cultivou vaidades!... Por que isso agora?

É que nunca havia visto joias assim! São maravilhosas!

Podem até ser, mas não lhe pertencem! Terá que devolvê-las.

Mas eu não consigo aceitar a ideia de perdê-las!

E o rabi respondeu com firmeza: Ninguém perde o que não possui. Retê-las equivaleria a roubo!

Vamos devolvê-las, eu a ajudarei. Iremos juntos devolvê-las, hoje mesmo.

Pois bem, meu querido, seja feita a sua vontade. O tesouro será devolvido. Na verdade isso já foi feito. As joias preciosas eram nossos filhos.

Deus os confiou à nossa guarda, e durante a sua viagem veio buscá-los. Eles se foram.

O rabi compreendeu a mensagem. Abraçou a esposa, e juntos derramaram grossas lágrimas. Sem revolta nem desespero.

* * *

O motivo para eu ter colocado esse texto e para ajudar algumas mulheres que já passaram pela perda. Nem sempre temos a oportunidade de ao menos olhar o rosto do nosso bebê. As vezes o sonho não durou mais que alguns dias. 

Mas nem por isso devemos deixar de confiar na sabedoria superior. Devemos tirar boas lições de tudo que passamos. Peço que jamais deixem que nada abale seu desejo de ser mãe. Nem mesmo uma perda. Confiar em Deus (ou confiar em você mesma... para quem não crê na existência de Deus) que somos fortes e que chegará a hora de viver esse sonho. Mas que se um dia, esse sonho acabar por qualquer motivo, devemos ter a certeza de que há algo maior que prepara nossa vida para a verdadeira felicidade. 

Se um dia precisarmos devolver nossas joias preciosas ao Pai aproveitemos essa oportunidade para aumentar nossa fé e melhorar como pessoas. Cultivemos nossas virtudes para então merecer um outra chance de viver o sonho de ser mãe!

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